Avisos:

A Banda de Amarante vai apresentar-se em Peroselo, Penafiel, para a festa em honra da Nª Srª da Visitação, no próximo dia 7 -- VI Estágio de Verão e Curso de Aperfeiçoamento de Sopros e Percussão (este ano com o maestro José Rafael Pascual Vilaplana) de 19 a 23 de Agosto -- Banda Musical de Amarante - Vencedora do 1º Prémio/III Escalão do IV Concurso Internacional Ateneu Artístico Vilafranquense e Prémio Tauromaquia

sábado, 14 de agosto de 2010

Festa de Gondar

E porque não Gondar? Já foi há algum tempo a última vez que a Banda Musical de Amarante lá esteve. As pessoas daquela freguesia portal do Marão merecem a presença da sua Banda na sua festividade. Estava na altura de nós, também, assumirmos um risco: comparecermos num serviço, num dos fins-de-semana de Agosto, o mês mais requisitado nos calendários filarmónicos de todo o país. O nosso legado da história recente deixou-nos com as possibilidades humanas reduzidas, mas a reconstrução ao longo destes três últimos anos, paciente a aplicada, possibilitou o crescimento do quorum da Banda, de modo a que os maestros possam estabelecer um equilíbrio de vozes e naipes, respirando qualidade para quem quer realmente ver qualidade.
A Banda Musical de Amarante apresentou-se, pela manhã, na freguesia de Gondar, numa das suas avenidas. Daí, encaminhada por três elementos que se supõe que faziam parte da Comissão de Festas, foi desfilando até à igreja. A poucos minutos das 11h00, seria dispensada de executar mais uma música, pois já se ouviam as primeiras notas do órgão da igreja, preparando a celebração da missa.
No final da solenidade, a Banda actuou em palco, executando uma marcha, de acordo com o estipulado. Após o almoço, a Banda voltou ao serviço. O grupo de bombos presente actuou até às 15h30, altura em que os executantes da Banda subiram a palco e começaram os preparativos para o concerto da tarde. O calor dificultava e demorava a afinação, como qualquer um de nós deve entender. No entanto, um indivíduo que, supõe-se, seria um dos comissionários, abordou zangado a Banda, afirmando que "estudar era na escola". Acusava a Banda de se encontrar em ensaio, quando se procedia à afinação dos instrumentos, de modo a garantir a melhor qualidade possível, num dia em que as condições climáticas não eram as melhores. Caricato, sem dúvida, mas foi algo que plantou um pedaço de revolta nos músicos, que estavam a esforçar-se por trabalhar. Finalizado este processo, já de si demorado - ainda para mais interrompido por um autêntico "entendido" - a Banda iniciou o concerto. Na pausa entre a segunda e terceira obra, mais um indivíduo da organização, recém-chegado ao local, aborda a Banda, alegando que não havia sido interpretada qualquer obra. Pior, já havia ligado a um dos nossos dirigentes, insinuando que o concerto não tinha começado - duas obras após o início - e que a Banda não tinha tocado de manhã - após todo o desfile e a dispensa pela Comissão nos minutos que antecederam a missa.
O relógio marcava 16h15, a Banda tinha começado os preparativos assim que o grupo de Bombos parou a sua actuação, pouco após as 15h30, afinando (com a infeliz interrupção), e interpretando já duas obras com, aproximadamente, 10 minutos cada. E era acusada de não ter ainda começado qualquer actuação, de estar a ensaiar. Os comissionários, em fúria, alegavam até que não iriam proceder ao pagamento. A Banda deveria de tocar das 15h30 às 17h45, sem interrupções!
A reacção entre os músicos foi de extrema revolta, por tal humilhação. Mas o espírito de grupo estava apenas a sujeitar-se a um teste que iria passar com distinção. O nosso líder estava ali, o maestro Armando Teixeira, e foi ele que os músicos souberam seguir, no meio das dificuldades criadas. A Banda marcou a sua posição, actuando conforme tem sido a sua marca - qualidade. Os músicos descansaram nos intervalos entre as obras e hidrataram-se para combater todo o calor. O grupo de bombos ainda intercedeu por nós, actuando por alguns minutos, concedendo-nos tempo para descansar. Afinal de contas, foram os nossos melhores espectadores e assistiram de perto a todo aquele festival proporcionado por alguém que agiu de uma forma no mínimo curiosa. Alguns elementos do povo da freguesia ainda passaram para ver as actuações, mas apenas houve enchente antes da procissão que, ao menos, correu dentro de todas as expectativas.
A festa terminou com a despedida da Banda.
Fica aqui um retrato de um Portugal que julgávamos estar a desaparecer. Talvez haja pessoas ainda sem o mínimo decente de cultura. A freguesia de Gondar não merecia isto. Músicos de várias naturalidades levarão uma mensagem errada desta terra e, os próprios populares ficaram desiludidos e tristes ao saber dos acontecimentos. Há elementos da Banda naturais desta freguesia, que, com pesar, se sentiram humilhados. Fomos acusados de não cumprir contratos e de mentir. Mas, pelo contrário, cumprimos cada linha do combinado, agradámos ao pouco público que ia passando que, em pequenos intervalos, aderia ao nosso ritmo e harmonia, e sobrevivemos àquelas condições difíceis, unidos em redor da nossa causa e seguindo um líder, que tomou sempre as melhores decisões. Acabou por se ganhar algo nesta festa: esta força conjunta de ultrapassar adversidades.
Talvez alguns, ao saber disto, achem piada e se encham de alegria ao ver a Banda percorrer caminhos sinuosos. Mas talvez quem assim o faça, não fosse o líder que cada um de nós, músicos, quisesse seguir. Talvez não goste de enveredar pelo caminho da qualidade, trocando pelo do ruído e número excessivo e desequilibrado de chapéus. Ou talvez tenha tão pouca formação que nem perceba patavina do que se escreveu na frase anterior.
Gondar merece a nossa presença para abrilhantar a sua festa, como freguesia de Amarante, a cidade e concelho a quem devemos os nossos préstimos. O que a Banda Musical de Amarante deseja é que as pessoas desta freguesia possam ter, a indicar-lhes o rumo (seja de uma festa ou seja do futuro da localidade em geral) pessoas capazes, cultas e que saibam o que lhes compete fazer no trabalho que executam.

A Banda de Amarante continua aqui, tal como o faz há 155 anos. Os seus métodos continuam a colher elogios pelo país fora. E, juntos, vamos continuar sempre no caminho da qualidade.

Obras executadas em palco:
  • Pela Lei e Pela Grei, marcha militar - Raúl dos Santos Cardoso (manhã)
  • Consuelo Císcar, pasodoble - Ferrer Ferran
  • Ross Roy, abertura para banda - Jacob de Haan
  • Caçadores do 1, marcha - Amílcar Morais
  • Le Merle Blanc, polka para flautim e banda - Eugene Damaré (flautim - Fábio Pinto da Costa)
  • Filarmonia, marcha - Afonso Alves
  • Xutos Medley - arr.: Luís Cardoso
  • Canções da Tradição, rapsódia - arr.: Luís Cardoso

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